domingo, 2 de março de 2008

Pesquisa e Prática Pedagógica 3

ALFABETIZAÇÃO DE 0 a 6 ANOS
CONCEPÇÃO DA ESCRITA E DA LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS.
PROBLEMA

* Como a criança de 0 a 6 anos desenvolve o processo de leitura e de escrita, levando em considerações seus conhecimentos prévios?


OBJETIVO GERAL:

* Compreender a concepção da escrita e da leitura na alfabetização de crianças de 0 a 6 anos.


OBJETIVOS ESPECIFICOS:

* Avaliar o que a criança de 0 a 6 anos conhece sobre a escrita e a leitura, antes e depois de inserida no quotidiano escolar.
* Compreender o desenvolvimento do processo da escrita e a leitura em crianças de 0 a 6 anos.
* Refletir a cerca das metodologias utilizadas pelos profissionais que atuam na alfabetização.
*Compreender porque muitas crianças se frustram diante o ensino a leitura e da escrita nas séries iniciais.

PROBLEMÁTICA

Há algum tempo a educação infantil vem recebendo um grande impulso apoiado pela LDB que vêm revelando a dicotomia entre creche e pré-escola, a questão do cuidado e a educação, assistência e desenvolvimento/aprendizagem dando ênfase à importância dos primeiros anos de vida do ser humano na sua formação, uma vez que as primeiras experiências representam a matriz que a criança estabelece com a realidade. Também segundo o Referencial Curricular Nacional (RCN, 1998) a Educação Infantil se expandiu de forma crescente em virtude da participação da mulher no mercado de trabalho, das novas estruturas familiares, e do crescente processo de urbanização. Assim, a educação infantil vem aos poucos ultrapassando os limites do atendimento assistencial para uma prática pedagógica voltada ao desenvolvimento da criança.(...)
Nos primeiros anos de vida da criança é preciso mobilizar técnicas, métodos e recursos pedagógicos que irão estimular seu desenvolvimento global, organizando não somente expressões espontâneas da criança, mas pensamento, linguagens e suas relações construindo assim novas situações que obriguem a formulação de novas aprendizagens. A linguagem forma um conjunto de condutas cognitivas e emocionais que vão dando origem à invenção, a descoberta e apropriação de combinações diversificadas permitindo a formação de conceitos de modo criativo e autêntico. Deste modo a alfabetização não deve ser algo imposto pelos adultos, a criança deve alfabetizar-se de acordo com os estímulos e o meio em que está inserida, não precisamos forçar assim uma "alfabetização precoce".
No final do século XIX a educação adquire maior importância sendo considerada como motor de transformação social, gerando assim novas discursões a cerca dos direitos e deveres na infância. Jonh Dewey (apud SANTOMÉ, 1998) descreve que “a escola deve representar a vida presente, uma vida tão real e vital para as crianças como a que vive em sua casa, no bairro ou no campinho de futebol” (p.28) que repercutiram decisivamente nas teorias e práticas pedagógicas. As primeiras relações da criança ocorrem na família, mas é na escola que a criança amplia seus relacionamentos, assim a escola proporcionará experiências únicas que segundo Zabala (apud KRIEGER, 1998) depende das experiências vivenciadas, e as instituições educacionais são um dos lugares preferenciais.
Deste modo, o meio social fortalece certos impulsos mentais e emocionais, concretizando que a educação nunca é diretamente, mas indiretamente através do meio, principalmente se entendermos a maneira de pensar da criança como uma construção histórica e pela prática pedagógica desenvolvida em cada tempo e lugar. Toda esta revolução na educação infantil, parte do princípio de considerar crianças como crianças, com personalidades próprias e diferentes, nesta perspectiva há um golpe a metodologia tradicional onde as aprendizagens são sustentadas no pensamento reprodutivo, estando baseado em Ovide Decroly que afirmará que o centro de interesses formará a percepção global infantil e motivará a criança a desenvolver suas necessidades fisiológicas, psicológica e social.
A dicotomia histórica do cuidar e educar advém de concepções de desenvolvimento e da aprendizagem, hoje tanto na creche quanto na pré–escola a criança tem o direito de ser cuidada e educada possibilitando assim a formação social, valorização de conhecimentos próprios para apropriação de novos conteúdos propostos. Assim o ato de cuidar na educação infantil relaciona-se intimamente ao ato de educar contribuindo para o desenvolvimento das capacidades infantis, atitudes de aceitação, respeito e confiança, além do conhecimento da realidade. Para que esta formação seja completa é importante ressaltar o interesse do professor pelo que a criança sente, pensa, tornando-a independente e autônoma baseando-se no trinômio ação-reflexão-ação em que o papel da escola é o de competência humana com ênfase na relação ética do desafio social, que segundo Ploharski (2003) cita a importância de deixar o medo e fazer os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser. Assim estará reformulando a teoria e prática a ser assumida.
Diante tantas transformações ocorridas na área educacional, ignorar as aprendizagens que a criança vem adquirindo em seu convívio social torna-se inadmissível, afinal eles falam, pensam e perguntam sobre a leitura e a escrita, porém muitas vezes somos alvos de uma alfabetização centrada no ba-be-bi-bo-bu, com uma metodologia fechada diferente da própria lógica das crianças.
O ensino da leitura e da escrita insere-se na aprendizagem significativa e da funcionalidade da linguagem, não distanciando de sua finalidade primordial , a comunicação, porém as crianças deparam-se com uma aprendizagem dupla, precisam conhecer o sistema de codificação da escrita alfabética, por outro lado a linguagem escrita com modos discursivos que resultam na utilização da escrita, nesta perspectiva é importante se ter a noção que se aprende a ler e escrever, lendo e escrevendo, e que os erros devem ser naturais nesse processo de exploração. No entanto, o mundo está repleto de representações e signos diversos, e assim as crianças vão desenvolvendo sua percepção da linguagem escrita, através de fases que se dividem em períodos denominados pré-silábico, onde a criança registra garatujas e desenho, símbolos ou letras que se misturam a números, nesta fase também começam a diferenciá-los. Na fase seguinte, a silábica, a criança tem a noção de que cada sílaba corresponde a uma letra. No nível silábico-alfabético a criança precisa negar o nível anterior, o valor sonoro impõe-se forçosamente. No nível alfabético a criança reconstrói o sistema lingüístico e compreende a sua organização. Ao ir desenvolvendo suas percepções, as crianças mesmo ainda não estando inserida no quotidiano escolar, vão imitando letras, diferenciando letras, números e desenhos, fingem que lê estórias que já conhecem ou criam a sua própria estória, porém já conhecem o que se lê e o que não se lê, deste modo, vão aos poucos desenvolvendo o verdadeiro sentido da leitura e da escrita em seu mundo.
Assim acabamos por nos perguntar, qual o significado de tantos “rabiscos”? Como interpretá-los sem frustrações? Como a criança adquire a noção do certo e errado? Qual o momento certo para ser alfabetizado? São muitos os questionamentos que norteiam a esta etapa da formação acadêmica, mas antes de respondê-las é essencial se ter a noção do que realmente é alfabetização.
A alfabetização, seguindo SOARES (1985) precisa ser focado sob dois aspectos: aquisição e desenvolvimento da linguagem oral e escrita, porém dar-lhe um significado negaria seu real sentido, afinal, alfabetização ultrapassa apenas o ler e o escrever. Várias são as perspectivas que norteiam o processo da alfabetização, a exemplo da abordagem psicológica que se direciona as condições prévias para a aprendizagem da leitura e da escrita; da psicolingüística que caracteriza a maturidade lingüística da criança; a sociolingüística que focaliza a alfabetização como processo vinculador aos usos sociais da língua destacando as diferenças dialetais e por outro lado a lingüística que concebe a alfabetização como um processo de transferência da forma sonora para a forma gráfica da escrita. Assim a criança terá não somente que compreender, mas entender os elementos da linguagem oral e escrita, apropriando-se desta nova aprendizagem.
Neste processo é de fundamental importância e interação da criança e o meio. O processo de alfabetização perpassa por vários fatores, desde o seu desenvolvimento emocional, social da natureza lingüística que está inserido, da relação escola e sociedade, pois o trabalho de alfabetização não se restringe apenas a sala de aula. Sem dúvida, a alfabetização é o momento mais importante da formação escolar de uma pessoa, é através da escrita e da leitura, se assim ainda podemos definir alfabetização, que temos acesso ao saber e que na atualidade é uma das maiores fontes do poder, por este motivo só agora no século XX surgiu as escolas públicas, que mesmo precariamente, permitiu um número maior de “alfabetizados”, desde modo nossas instituições são controladas pelo poder e não pelo saber.
Nesta perspectiva é relevante repensarmos atitudes a cerca da atual alfabetização do faz-de-conta, partir do principio que a criança tem um passado e que cada ser não aprende da mesma maneira. A escola nesta situação é um importante meio de vinculação do atual quadro, é a escola que abusa da força de linguagem para ensinar, orientado por princípios capitalistas, como CAGLIARI (1997) relata em seu livro Alfabetização e Lingüística, “a criança na escola, é claro não pode escrever pura e simplesmente o que quer, tem que aprender a escrever o que a cultura escolar lhe impõe. E isso, é lamentável”. (p.37). Porém se faz também necessário a formação de um professor reflexivo perante suas atividades, desenvolvendo assim grande importância perante a sociedade que forme sujeitos também reflexivos e mais que isto construtores de suas histórias saindo da marginalização dos processos alfabetizadores atuais, para uma alfabetização democrática, mais que isto, insira-se num processo de letramento onde apenas ler e escrever não é o bastante e nem o essencial, o primordial é estar inserido no seu contexto, interpretar o mundo a sua volta com novas visões.